sábado, 12 de junho de 2010

comunidade do coque

Por que no Coque?

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“Tá indo para o Coque? É bom levar o colete a prova de balas”. É comum ouvir esse tipo de piada ao se referir à comunidade do Coque. O lugar é marcado pelo estigma da violência e da criminalidade. Estigma que possui um fundamento: localizado na Ilha de Joana Bezerra, entre dois grandes centros comerciais do Recife – Boa Viagem e Boa Vista – o bairro é uma das áreas com os maiores índices de violência do estado de Pernambuco.

A fama de bravura dos habitantes da comunidade é histórica. O povoamento da região tem início em meados do século XIX. Com o declínio da economia açucareira, capatazes dos engenhos, conhecidos como “cocudos” devido a sua valentia, fixaram sua morada ali, sendo essa uma das possíveis origens do nome Coque. Durante a Intentona Comunista, o líder Gregório Bezerra se refugiou nos arredores da região. Esse passado de valentia sempre assustou a sociedade recifense, que evitava freqüentar as procissões do local por temer a “gente navalhada do Coque”.

Nos últimos sessenta anos, devido a crescente chegada na região de novas famílias pobres oriundas do interior e da zona da mata, a situação social se tornou bastante precária. Não houve investimentos suficientes na área de moradia, saúde, educação, entre outras. O resultado é a existência de duas comunidades: uma parcialmente atendida quanto às necessidades básicas de água, luz, saneamento e outra completamente abandonada, deixada à mercê da maré da cidade do Recife. Os índices de pobreza da região são gritantes; 57% da população de 40 mil vive com renda mensal entre meio e um salário mínimo, número acima da média estadual, segundo o Mapa do Fim da Fome II.

A razão da escolha pelo Coque pode ser resumida em dois pontos básicos. O primeiro deles está relacionado ao baixo nível de leitura, problema existente em praticamente todas as comunidades da periferia. Entretanto, a situação do Coque especificamente é agravada pela ausência de uma biblioteca acessível, estando a mais próxima localizada em Afogados, o que constitui o segundo ponto determinante.

Apesar das dificuldades, acreditamos no potencial do Coque. A partir do momento em que a cultura de uma comunidade é fortalecida, as condições negativas podem ser superadas e novas perspectivas de projeto coletivo podem ser apontadas. Entendemos a criação da primeira biblioteca popular do Coque como a criação de um espaço de consulta, convívio e produção, por meio da literatura, da auto-estima, dos valores culturais da comunidade e do estímulo à construção de suas próprias representações. Para isso, é necessário, contudo, incentivar o gosto pela leitura e pela escrita e por isso conectamos a consolidação da biblioteca a uma oficina de sensibilização, aprendizado e produção de textos sobre “Escritores e Leitores do Nordeste”.

Esperamos que com este e outros projetos realizados no bairro os jovens da região sintam-se motivados a lutar por condições de vida mais humanas e a exigir mais respeito da mídia e da sociedade na representação do Coque. Afinal, para além da pobreza e da violência, existem muitos aspectos positivos e motivos de orgulho na comunidade, como coragem, força de vontade e solidariedade, esperando para serem reconhecidos.

(As fotos utilizadas para ilustrar foram tiradas por jovens da comunidade, na oficina de fotografia, realizada no segundo semestre de 2006.)

VOLTA

informações retiradas da Biblioteca Popular do Coque


























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